Precisamos falar sobre Yellowjackets antes.
“Você sabe, não é? Que eu sou parte de vocês? Bem perto, bem perto, bem perto! Que é por minha causa que nada adianta? Que as coisas são do jeito que são?”
Pare agora de ler esta resenha, se você ainda não assistiu Yellowjackets. Mas calma, não é que vou soltar spoilers, mas vai ficar muito mais fácil convencer você de que o livro O senhor das Moscas é incrível e um ótimo aliado para esperar a próxima temporada da série.
Yellowjackets é uma série de televisão dramática e de suspense que estreou em 2021. A trama segue um grupo de jogadoras de futebol adolescente, conhecidas como as “Yellowjackets”, que sobrevivem a um acidente de avião em uma floresta remota.
A narrativa oscila entre o presente e o passado, revelando os eventos traumáticos que moldaram suas vidas após o acidente e como elas lidam com os segredos sombrios do que realmente aconteceu durante os meses em que estiveram perdidas no meio da floresta.
“Mata o monstro! Corta a goela! Espalha o sangue!”
A série explora temas como sobrevivência, trauma, rivalidades, relações pessoais e a perda da inocência, enquanto mergulha nas complexidades psicológicas e emocionais das personagens.
Com reviravoltas surpreendentes e mistérios envolventes, Yellowjackets mantém os espectadores intrigados e especulando sobre o destino das personagens e os segredos do passado que ainda assombram o presente.
Quando terminei o último episódio da segunda temporada eu estava obcecada. Passava 80% do meu dia falando sobre Yellowjackets e os outros 20% esperando que meus amigos comentassem sobre para eu falar também.
Daí de repente pensei: quero mais! Já que a terceira só sai em 2025. Aproveitei e fui buscar o livro que a série se inspirou para criar o roteiro. Foi assim que O senhor das moscas entrou para a minha #tbr de 2024.
Os meninos perdidos de Willian Golding
“Estamos numa ilha. A gente subiu até o alto da montanha e viu água à toda volta. Nada de casas, nem fumaça, nem pegadas, nem barcos, nem ninguém. A gente está numa ilha deserta sem mais nenhum habitante”.
O Senhor das Moscas, obra magistral escrita por William Golding, é uma narrativa que mergulha nas profundezas da natureza humana, explorando temas como civilização versus barbárie, poder, violência e a perda da inocência.
Tinha idade bastante, doze anos e alguns meses, para já ter perdido a barriga proeminente da infância, mas ainda não suficiente para a adolescência deixá-lo acanhado.
Publicado pela primeira vez em 1954, o livro permanece como uma poderosa reflexão sobre a essência da humanidade e os impulsos que moldam nossas ações em tempos de adversidade.
“Quem vai contar? Você não ouviu o que o piloto falou? Da bomba atômica? Todo mundo morreu”. Ralph Saiu da água.
O narrador em terceira pessoa nos apresenta a história de um grupo de crianças que, após um acidente de avião, se encontram presas em uma ilha deserta, sem a supervisão de adultos.
Ali, invisível mas forte, erguia-se o tabu da vida antiga. Em torno do garotinho acocorado havia a proteção de pais, da escola, da polícia e da lei. O braço de Roger ainda era condicionado por uma civilização que desconhecia sua existência e vinha caindo em ruínas.
O que começa como uma tentativa de manter a ordem e a civilidade rapidamente se transforma em um conto sombrio de decadência moral e selvageria.
Conforme os personagens enfrentam desafios de sobrevivência e buscam estabelecer uma sociedade própria, os instintos mais primitivos começam a emergir, revelando as profundezas da natureza humana.
Tentou explicar a compulsão de perseguir e matar que tomava conta dele. “Eu continuei. Achei que, sozinho —” A loucura tornou a aparecer nos seus olhos. “ — conseguia matar alguma coisa.” Mas não matou.” Achei que conseguia.”
Através de personagens como Ralph, Porquinho, Jack e Simon, Golding ilustra os diferentes aspectos da sociedade e do comportamento humano.
Ralph representa a ordem e a racionalidade, enquanto Jack personifica a brutalidade e a busca pelo poder. Porquinho, com sua inteligência e perspicácia, simboliza a voz da razão e do bom senso, enquanto Simon encarna a espiritualidade e a compaixão.
“Meu pai é da Marinha. E me disse que não existem mais ilhas desconhecidas. Contou que a Rainha tem uma sala cheia de mapas, e que todas as ilhas aparecem neles. Então, a Rainha tem um mapa desta ilha.”
A interação entre esses personagens cria um drama cativante que mergulha nas questões fundamentais da existência humana.
Ainda assim, a tradicional distribuição norte-europeia de trabalho, diversão e alimentação ao longo do dia impedia um ajuste integral dos meninos ao novo ritmo.
A narrativa é habilmente construída, com Golding utilizando a ambientação isolada da ilha para intensificar o conflito e explorar os temas universais de moralidade e ética.
“Concordo com Ralph. A gente precisa de regras, e precisa obedecer as regras. Afinal, não somos selvagens. Somos ingleses; e os ingleses são os melhores do mundo em tudo. Por isso, a gente precisa fazer as coisas do jeito certo.”
À medida que a sociedade dos meninos desmorona e a selvageria toma conta, o leitor é confrontado com a inevitável pergunta: até que ponto somos verdadeiramente civilizados?
[…] Merridew virou-se para Ralph. “Nenhum adulto?” “Não”. Merridew instalou-se num tronco e olhou em volta. “Então vamos ter de nos virar sozinhos”.
O Senhor das Moscas” de William Golding é mais do que uma simples história sobre um grupo de crianças perdidas em uma ilha deserta; é uma poderosa meditação sobre a natureza humana e a fragilidade da civilização.
Ao longo da narrativa, Golding nos lembra da fina linha que separa a ordem da anarquia, a civilidade da barbárie.
Agora era possível perceber que ele daria um bom boxeador, a se julgar pela largura e o peso dos ombros, mas sua boca e seus olhos emitiam uma gentileza que não prenunciava um demônio violento.
Sua escrita habilidosa e perspicaz nos leva a refletir sobre nossas próprias tendências e impulsos, convidando-nos a questionar nossas próprias noções de moralidade e ética.
Eram incontáveis, negras e de um verde iridescente; e diante de Simon, o Senhor das Moscas seguia preso à sua estaca, mostrando os dentes.
Por meio de O Senhor das Moscas, Golding nos lembra da capacidade do ser humano para o bem e para o mal, e da possibilidade de não conseguirmos manter a civilidade nos momentos mais sombrios.
O monstro tentou avançar, rompeu o cerco e despencou da beira da laje de pedra na areia junto ao mar. Na mesma hora o bando se atirou sobre ele, pulando da laje, caindo em cima do monstro, gritando, batendo, mordendo, rasgando.
A narrativa é muito simples, acredito que o autor a tenha construído desta forma de modo a sugerir a selvageria e não escancará-la, já se que tratam de crianças muito jovens.
Esta leitura foi uma ótima experiência e integra o grupo de livros dos idos de um longo janeiro. Até o próximo post!
Já me segue no Instagram? Clique aqui para seguir.
Deixe um comentário